quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Indisciplina Autorizada: de quem é a culpa ?


Educar  nos dias de hoje, não é o mesmo que educar há 40 anos atrás. A sociedade mudou  e as famílias também mudaram.  Tudo a nossa volta mostra-se com limites muito mais flexíveis e frouxos.  Assim temos hoje, a  indisciplina generalizada  e autorizada pelos  meios de comunicação, pela nossa cultura e pelas famílias.  Nós, os Educadores somos os únicos que ainda defendem os valores de 40 anos atrás.
Talvez sejamos um dos poucos segmentos, no planeta inteiro, que preza, ensina e cobra nas crianças e nos jovens, atitudes  pautadas  em princípios, valores e firmeza de caráter.
Seríamos nós ,  seres tão “jurássicos” e ultrapassados a ponto de sermos um dos poucos que rema e caminha contrário a essa crescente corrente de  corrupção, indisciplina, falta de moral, de princípios e  caráter ?
Somos aqueles que apontam, ensinam, corrigem, cobram , porém ao apontarmos estamos expondo a negligência e incompetência das famílias na correta educação dos filhos, negligência esta que tem um preço alto, e quem paga é a sociedade e todos aqueles que  nela vivem ou viverão.
Enquanto isso chegam nas nossas salas de aula, diariamente, crianças e jovens com seus fones de ouvido, seus celulares, seus comportamentos debochados e indisciplinados,  seu linguajar rude e desrespeitoso, que sentem-se autorizados, pela família (que não lhes deu a devida educação) e muitas vezes também pela Escola (quando não dispõem de mecanismos de gerenciamento efetivo dos espaços e na criação de normas disciplinares padronizadas para todos os professores) e dos Gestores (que  em muitos casos não oferecem o apoio e o respaldo que o professor precisa para que seja aplicada a devida correção).
O vilão da estória, causador de todas estas situações ?  é o Professor ! afinal é ele  que vive “pegando no pé” dos alunos, é ele que vive reclamando da indisciplina, é ele que sempre vem com aquela mesma “lenga-lenga” de que o aluno tem de desligar o celular, guardar o fone de ouvido, fazer a lição, fazer silêncio.
O resultado dessa negligência moral e da indisciplina autorizada é que o discurso do Professor, fica perdido, sufocado em um emaranhado  de percepções e valores controversos. As próprias famílias ensinam e estimulam que os filhos revidem e não levem “desaforos para casa”, os filhos por sua vez convivem com pais que gritam, se agridem física e verbalmente e  não são bons exemplos de conduta.
Assim fica fácil encontrar  o vilão , pois o único que destoa de tudo isso é  o Professor, e como tal  precisa ser visto como vilão da estória,  pois só assim todos os demais envolvidos se eximem da culpa e da responsabilidade por estarem negligenciando com seus deveres.
Os pais precisam culpar alguém pelo fracasso dos filhos, os alunos precisam achar um “Judas para malhar “ e alguns Gestores precisam de um bode  expiatório  para levar a culpa.
Será que esse papel  é  meu ?
Diz o ditado popular “ a voz do povo é a voz de Deus”, ditado esse que discordo veementemente.  Muitas vezes as pessoas se juntam, e se apoiam dentro de um único ponto de vista pois unidos em um grupo acreditam que suas atitudes são legitimadas.
Por esta razão não se engane em acreditar que você é o vilão da estória, só porque as famílias ou os alunos  precisam de um bode expiatório . Não caia no grupo da autocomiseração, nada de sentir “dodói”, querer abandonar a profissão, jogar tudo para o alto alegando que não vale a pena. Já dizia Fernando Pessoa: “tudo vale a pena se a alma não é pequena”.
Ao entrar em uma sala de aula, não devemos fazê-lo de forma ingênua ou despreparada. Não estamos lá apenas para dar aulas, ou cumprir o livro didático. É preciso que fique claro qual o seu real papel dentro do grande contexto que é educar.
O  que pode ser feito ?
Existem  algumas  maneiras de lidar com a indisciplina dentro da Escola:
1) tratar com indiferença e fazer de conta que não se importa e deixar “rolar”
2) obrigar os pais e alunos,  por meios legais ou com  medidas enérgicas e ameaças a tomar providências
3) não fazer nada e esperar outros  tomarem atitude 
4) mudar de  profissão devido ao esgotamento nervoso
5) criar estratégias para minimizar, contornar ou corrigir uma situação
Conclusão:
Pais negligentes sempre existirão bem como  Alunos debochados e indisciplinados. Teremos de conviver com  Gestores despreparados e talvez ainda , por um bom tempo com uma  Legislação paternalista e  Políticas Públicas precárias. O fato é que o grande cenário precisa de mudanças, urgentes e profundas, no entanto jamais aceite ser tratado como vilão.
Professor não é vilão. O Professor faz parte da  solução !



Como fazer Avaliação Diagnóstica


Início do ano, turma nova, Escola nova, enfim, como começar o trabalho com os alunos?
Nem pense em iniciar o trabalho pedagógico partindo da premissa do que você ACHA que os alunos já sabem. É preciso investigar, avaliar, levantar o que de fato a turma já sabe e o que ainda ela não sabe.
O instrumento para fazer isso é realizar a Avaliação Diagnóstica, que tem o objetivo de verificar a presença e a ausência dos pré-requisitos de aprendizagem adquiridos, ou não, na série anterior.
Não há um modelo de Avaliação Diagnóstica, cada Professor, conforme sua disciplina e os pré-requisitos que precisam ser trazidos da série anterior, é quem elabora atividades que levantem o que o aluno sabe e o que ele ainda não aprendeu.
1) Quando e porquê realizar a Avaliação diagnóstica:
.    Realizada no início do curso, período letivo ou unidade de ensino
.    Tem a intenção de constatar se os alunos apresentam ou não domínio dos pré-requisitos necessários (conhecimentos e habilidades) para novas aprendizagens, caracterização de eventuais problemas de aprendizagem e suas possíveis causas (cognitivo)
.    Função: diagnosticar
.    Serve para identificar alunos apáticos, distraídos, desmotivados (comportamentos)
De posse dos resultados da avaliação diagnóstica será possível o Professor ajudar os alunos das seguintes formas:
.    Estimular o relacionamento entre os alunos, através de jogos e atividades dinâmicas
.    Criar intervenções pedagógicas específicas que auxiliem o aluno a superar dificuldades
.    Criar Rotinas  que reforcem o comportamento positivo dos alunos
.    Realizar mudanças no ambiente da sala de aula que favoreça o aprendizado
.   Adotar novas práticas de ensino que estimulem a participação da turma
2) O QUE AVALIAR: Levantar Pré-Requisitos da série anterior
Muitos Professores sempre mandam email pedindo modelos prontos de avaliação diagnóstica. Creio que isso deve-se ao fato de que, para o Professor, não há a clareza do que ele deve levantar neste tipo de avaliação.
Quando você conhece o que deve diagnosticar, basta você criar atividades pertinentes a sua disciplina, e isso é algo que você já está acostumado a fazer quando elabora as tarefas, as provas, as dinâmicas, os textos, os vídeos, enfim, quando você elabora a sua aula.
Você precisa ter claro que deve verificar os objetivos e metas a serem atingidos na série atual, e levantar quais são os pré-requisitos que o aluno já deve ter adquirido na série anterior.
Por motivos óbvios, não é possível fazer neste artigo, um detalhamento de todos os pré-requisitos para todas as disciplinas e séries, porém a título de ilustração, tomarei como exemplo um aluno que ingressa no 6º. Ano, e que o Professor de Matemática precisa levantar se este aluno traz os pré-requisitos necessários para cursar o 6º. Ano e atingir os objetivos estabelecidos para esta série.
- Situação :  O  Aluno está matriculado no 6º. Ano (verificar quais são os objetivos desta série no que refere-se  à   Matemática).
- Levantar quais são os pré-requisitos que esse aluno deve ter , em Matemática, ao chegar no 6º. Ano
- Exemplos de pré-requisitos que o aluno já deve trazer do 5º. Ano em Matemática:
Operações Fundamentais- adição, subtração, multiplicação e divisão
- algoritmos das operações fundamentais
- utilização das operações fundamentais como ferramenta para a resolução de  problematizações
- cálculo mental
. Frações- conceito e representações
- leitura e escrita
- comparação de frações
- frações discretas e contínuas
- cálculo de fração de quantidade
- frações equivalentes
- simplificação
- operações com frações
- resolução de problemas envolvendo frações
Porcentagem e Gráficos:
- conceito de porcentagem a partir das frações decimais
- cálculo de porcentagem através de frações equivalentes
- resolução de problemas envolvendo cálculos de porcentagem
- desenvolvimento de procedimentos e estratégias para coleta de dados e informações em pesquisa de diversas naturezas
- construção de procedimentos de apresentação de dados coletados
- construção, leitura e interpretação de diferentes tipos de representações gráficas (barra, linha, setores)
. Geometria: Medidas, Formas e Construções Geométricas- conceitos: ponto, linha, superfície, vértice, aresta, ângulo
- linguagem geométrica
- polígonos
- triângulos e quadrilátero
- propriedades dos triângulos
- conceitos: escalas e simetria
- construções geométricas com o auxílio do compasso e do transferidor
- ampliação e redução de figuras
- sólidos geométricos
3) Como Avaliar: Instrumentos de avaliação
Existem diversos recursos  e práticas de ensino disponíveis que podem ser utilizados no momento da avaliação diagnóstica. Idealmente, selecione mais de um dos instrumentos abaixo :
.      Pré-teste;
.      Auto-avaliação;
.      Observação;
.      Relatório;
.      Prova;
.      Questionário;
.      Acompanhamento;
.     Discussão em grupo;
.     Estudos de caso (análise de estudos de casos com o objetivo de identificar como o aluno  responde à avaliação);
.     Fichas de avaliação de problemas (trabalhar com modelos de fichas de avaliação), etc.
A utilização dos instrumentos deve ser adequada ao contexto em que o professor se encontra. Por exemplo, aulas com muitos alunos inviabilizam a avaliação por observação ou  acompanhamento, enquanto que disciplinas práticas possibilitam esses instrumentos de avaliação.
Não se surpreenda se, ao analisar os resultados levantados na Avaliação Diagnóstica você tenha de fazer ajustes no Planejamento. Afinal, quando o Planejamento é criado, o aluno ainda não foi avaliado, e portanto, o Planejamento é elaborado com base em um aluno “ideal”, e portanto, é um Planejamento longe da realidade dos alunos, pois o Professor o elabora baseado em  suposições e não em dados reais.
O fato é que, quando as aulas começam a situação mostra-se outra: alunos  com defasagens de aprendizado, com dificuldades em determinados conteúdos, e sem os pré-requisitos necessários para cursar aquela série.
E antes que você reclame que realizar a Avaliação Diagnóstica é uma “perda” de tempo porque você tem que “dar conta” do Planejamento até o final do ano, já lhe aviso: o objetivo maior que você deve cumprir é  criar todas as condições para que todos os alunos adquiram as competências necessárias de aprendizado e não apenas para cumprir o Planejamento.
Por isso mãos à obra: comece o planejamento pela Avaliação Diagnóstica. Já diz o ditado “ Se você falha em não planejar, você com certeza, já planeja falhar”.  Aguardo seus comentários no blog.