NÃO
BASTA VOTAR
As
instituições e as pessoas estão desacreditadas. O povo continua a mercê de
políticos inescrupulosos e corruptos. Há interesse em manter esse estado de
coisas. Sem consciência politica o povo fica mais vulnerável aos engodos.
José Antônio da Silva Barros
É-nos extremamente difícil
imaginar a atividade política sem o embate das ideias. Fazer política é ter
ideias e lutar por elas. É ter um programa viável com prioridades definidas e
sem planos mirabolantes. É ter convicções políticas e ideológicas pelas quais
se deve lutar com denodo. Enfim, é aliar pensamento e ação. Para concretizar tudo
isso é necessário à existência de um partido político estruturado, com um
conteúdo ideológico e identificado com os anseios mais legítimos do povo. É o
que não acontece hoje no Brasil e nos deixa deveras preocupados. Os que temos,
na realidade, são meras legendas de aluguel ás quais os políticos estão sempre
se filiando quando estas estão em evidencias ou rendendo votos. É vezo de todos
eles trocarem de partidos, de acordo com seus interesses. Quando mudam de
agremiação o fazem sem consultar seus eleitores. Fazem movidos apenas por seus
interesses pessoais, e muitas vezes inconfessáveis. Parece que a única solução
seria uma reforma política radical, com o fito de erradicar alguns vícios de
que padece a política brasileira e adotar, entre outras medidas, o instituto da
fidelidade partidária, pois não se pode conceber que um candidato, que é eleito
com uma proposta na qual muitos acreditaram anuncie inopinadamente o seu
desligamento do partido ao qual está filiado. Daí o fisiologismo, os conchavos
e a corrupção generalizada, uma vez que em política tudo é factível.
O Brasil é um pais sui
generis em quase todos os aspectos, principalmente na forma de fazer politica.
Aqui são aceitas e toleradas certas anomalias que seriam impensáveis em sociedades
mais organizadas como, por exemplo, artifícios instituídos pela própria
legislação eleitoral que deixam brechas para que candidatos que em condições
normais seriam inelegíveis se candidatarem e até serem eleitos.
O homem é um ser gregário e,
como tal, não pode prescindir do concurso de seus semelhantes. A sociedade nos
moldes em que está organizada hoje não atende as necessidades básicas de seus
cidadãos. A vida em sociedade é uma exigência da natureza humana. Ao se reunir
para viver em grupo, o homem assume deveres e adquire direitos. O estado, por
seu turno, deve satisfazer as necessidades mais prementes da população e
promover o bem-comum. A partir do momento que deixa de atender essas
necessidades pode desencadear o descontentamento, culminando Ipso facto em
convulsão social. Efetivamente, nos últimos anos, o país tem vivido em estado
de pre-convulsão social que é – diga-se de passagem- um situação que não pode
durar indefinidamente.
O desenvolvimento econômico
deve estar atrelado ao desenvolvimento social. O país experimentou, é verdade,
nas últimas décadas um crescimento que o coloca entre as dez maiores economias
do mundo ocidental. Em contrapartida, os nossos indicadores sociais nos colocam
ao lado das nações mais atrasadas do planeta. É preciso ter em mente que
crescimento não é progresso. Só podemos falar em desenvolvimento quando todos
compartilham desse crescimento.
Com o fim da ditadura
militar que se estendeu por mais de 20 anos e o restabelecimento da democracia
o pais vem realizando eleições regularmente. Estamos às vésperas de novas
eleições. Desta vez para eleger deputado, governadores e senadores de todo o
país. Como sempre acontece nessas ocasiões, encara-se as eleições como se
fossem uma panaceia capaz de resolver de imediato todas as mazelas que assolam
o país. Contudo, a simples alternância no poder não vai equacionar os problemas
que afligem o povo. Os candidatos, na sua grande maioria despreparados e sem
nenhuma experiência no trato da coisa pública passam a maior parte do tempo se
digladiando sem apresentar propostas serias e exequíveis para que todos possam
analisa-las.
Os políticos devem atentar
para o fato de que não bastam apenas eleições. A crise que atravessa o país não
é somente de homens. As instituições precisam ser fortalecidas, a fim de que se
possa construir uma sociedade realmente livre. A simples alternância no poder,
a troca de pessoas não será suficiente para assegurar a existência de uma
sociedade justa e que atenda aos interesses da maioria.
Os candidatos, por sua vez, agem como se
votando neles tudo será resolvido. É como se fossem autossuficientes.
Declaram-se capazes de equacionar todos os problemas da vida social. Não é
assim que as coisas funcionam. As instituições políticas são muito importantes
para o funcionamento da democracia. Só podemos viver sob a égide da verdadeira
democracia quando as instituições estão funcionando plenamente, ou melhor,
quando todos acreditam nos homens e nas próprias instituições. Não basta votar.
É preciso chamar atenção para estas questões que são de importância
fundamental para a compreensão da
realidade política do nosso país.
As instituições, as pessoas
e as coisas estão cada vez mais desacreditadas neste país. O povo continua a
mercê de políticos inescrupulosos e corruptos que só tem contribuído para o
atraso. A verdade é que eles tem interesse em manter esse estado de coisas. Alienado
e sem consciência política o povo fica mais vulnerável aos engodos. Com efeito,
enquanto a maioria dos eleitores for obrigado a trocar seus votos pelas
migalhas que caem das mesas dos políticos continuará a conhecer a angústia, a
fome e a miséria.
O pais vive momentos
cruciais de sua história. Estamos ainda no primeiro quartel do novo século que
certamente será de grandes realizações em todos os campos da atividade humana.
Escusado dizer que para acompanhar essas transformações é preciso estar
preparado. É de capital importância forjar estadistas com capacidade
administrativa e tirocínio político. Esta é uma tarefa que cabe também ao povo
que tem nas mãos o instrumento perfeito, que é o voto para escolher para
representa-los homens sérios e imbuídos dos melhores propósitos.