terça-feira, 1 de abril de 2014



OS INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO SUPERIOR TEM SIDO BASTANTE RENTÁVEIS. É  UM FILÃO QUE VEM SENDO EXPLORADO CADA VEZ MAIS.
“A ilusão do saber”
José Antônio da Silva Barros
O saber vasto e variado que pode culminar na erudição só é adquirido através do estudo diuturno, principalmente por leituras, releituras, analises e pesquisas exaustivas. É o que fazem os eruditos, exegetas, estudiosos e pesquisadores. Não pode ser comprado ou obtido por intermédio de artifícios ou expedientes escusos, mas atualmente qualquer individuo que possa desembolsar as quantias exigidas por algumas instituições de ensino pode realizar o acalentado sonho de obter um título universitário. Se todos, ou pelo menos, a maioria dos estudantes egressos dessas instituições conseguissem, efetivamente, agregar valores aos seus conhecimentos seria algo excepcional. A flexibilização do acesso aos cursos superiores poderia representar um grande avanço, mas, na realidade, há outras intenções ou interesses inconfessáveis por trás de tudo isso. É, sem sombra de dúvida, a  mercantilizarão do ensino em todos os níveis. Em outras palavras, a educação tornou-se uma mercadoria como outra qualquer, e como não poderia deixar de ser, essas famigeradas instituições acabam seguindo a lógica do mercado, que é a busca incessante pelo lucro fácil. Vale ressaltar que muitas delas fazem parte de um grande negócio que movimenta boa parte da economia. Os investimentos em educação superior ao longo dos últimos anos tem se mostrado bastante rentáveis. É um filão que vem sendo explorado cada vez mais.
Considerados como clientes, os estudantes dessas universidades acabam sendo beneficiados pelas próprias instituições que sempre procuram meios de minimizar o índice de reprovação temendo que a clientela possa optar por uma concorrente menos exigente. Como se vê, o cliente precisa estar satisfeito. Via de regra, a responsabilidade pelo fracasso do aluno é imputada ao professor, ou seja, o freguês tem sempre razão. Com efeito, o saber produzido nos moldes do sistema capitalista pode ser vendido, trocado ou consumidos. Daí a crise do ensino público que resulta em grande parte dos interesses dos empresários do setor que estão sempre impondo as regras nos bastidores da política, e portanto, não tem interesse na melhoria do ensino oferecido pela rede pública.
Por outro lado, a leniência, a falta de critérios mais rígidos nos processos de avaliação aliado a uma serie de outros fatores tem contribuídos para a formação de indivíduos que podem ser considerados autênticos analfabetos funcionais, uma vez que são incapazes de assimilar e interpretar o significado de palavras ou expressões de textos mais sofisticados.
O antigo principio que considerava o conceito de educação (entendida como Bildung, “formação” ) segundo o qual o conhecimento não pode estar dissociado do espírito e do próprio individuo cai por terra. A educação nos moldes atuais não resiste a esses pressupostos.
Os conteúdos das disciplinas são transmitidos de maneira muito superficial como mera informação sem nenhuma preocupação com os aspectos conceituais afastando-se das cogitações mais profundas.
Ademais, a falta de leitura e o consequente empobrecimento da linguagem dos estudantes são preocupantes. Os alunos, por sua vez, buscam apenas o saber técnico necessários para competir no mercado. O sociólogo Max Weber chamava a atenção já no inicio do século XX que a educação estava mudando os seus objetivos para atender as imposições do capitalismo moderno. Ate então, o objetivo da educação era formar homens com um grande cabedal de cultura. A partir daquele momento a finalidade passava a ser treinar especialista.  Não há a preocupação de transformar o individuo num cidadão conscientizado e politizado capaz de refletir sobre os problemas que afligem a sociedade na qual está inserido. Causa espécie ouvir de pessoas que por dever de oficio deveriam estar sempre em contato com a escrita e a leitura dizerem, com todas as letras, que não gostam de ler. Quem não lê dificilmente vai aprender a pensar, que é o objetivo precípuo da educação. É preciso ter em mente que a dialética de cada um depende de seu grau de cultura.
Ao ingressar nos meios acadêmicos, o aluno deve estar imbuído da ideia de que é uma oportunidade de abrir novos horizontes e não um atalho para galgar uma posição privilegiada na sociedade.
A educação que é indubitavelmente um instrumento fundamental para a mudança de uma estrutura opressora e excludente acaba se transformando numa ferramenta a serviço da manutenção do status quo pelas elites.

Para este escriba, somente uma educação voltada para a democratização da sociedade pode formar cidadãos                críticos e conscientes e não um rebanho de consumidores ávidos por produtos descartáveis que proporcionam apenas prazeres efêmeros.