OS INVESTIMENTOS EM EDUCAÇÃO SUPERIOR TEM SIDO BASTANTE
RENTÁVEIS. É UM FILÃO QUE VEM SENDO
EXPLORADO CADA VEZ MAIS.
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José
Antônio da Silva Barros
O saber vasto e variado que pode culminar na erudição só é adquirido
através do estudo diuturno, principalmente por leituras, releituras, analises e
pesquisas exaustivas. É o que fazem os eruditos, exegetas, estudiosos e
pesquisadores. Não pode ser comprado ou obtido por intermédio de artifícios ou
expedientes escusos, mas atualmente qualquer individuo que possa desembolsar as
quantias exigidas por algumas instituições de ensino pode realizar o acalentado
sonho de obter um título universitário. Se todos, ou pelo menos, a maioria dos
estudantes egressos dessas instituições conseguissem, efetivamente, agregar
valores aos seus conhecimentos seria algo excepcional. A flexibilização do
acesso aos cursos superiores poderia representar um grande avanço, mas, na realidade,
há outras intenções ou interesses inconfessáveis por trás de tudo isso. É, sem
sombra de dúvida, a mercantilizarão do
ensino em todos os níveis. Em outras palavras, a educação tornou-se uma
mercadoria como outra qualquer, e como não poderia deixar de ser, essas
famigeradas instituições acabam seguindo a lógica do mercado, que é a busca
incessante pelo lucro fácil. Vale ressaltar que muitas delas fazem parte de um
grande negócio que movimenta boa parte da economia. Os investimentos em
educação superior ao longo dos últimos anos tem se mostrado bastante rentáveis.
É um filão que vem sendo explorado cada vez mais.
Considerados como clientes, os
estudantes dessas universidades acabam sendo beneficiados pelas próprias
instituições que sempre procuram meios de minimizar o índice de reprovação
temendo que a clientela possa optar por uma concorrente menos exigente. Como se
vê, o cliente precisa estar satisfeito. Via de regra, a responsabilidade pelo
fracasso do aluno é imputada ao professor, ou seja, o freguês tem sempre razão.
Com efeito, o saber produzido nos moldes do sistema capitalista pode ser
vendido, trocado ou consumidos. Daí a crise do ensino público que resulta em
grande parte dos interesses dos empresários do setor que estão sempre impondo as
regras nos bastidores da política, e portanto, não tem interesse na melhoria do
ensino oferecido pela rede pública.
Por outro lado, a leniência, a
falta de critérios mais rígidos nos processos de avaliação aliado a uma serie
de outros fatores tem contribuídos para a formação de indivíduos que podem ser
considerados autênticos analfabetos funcionais, uma vez que são incapazes de
assimilar e interpretar o significado de palavras ou expressões de textos mais
sofisticados.
O antigo principio que considerava
o conceito de educação (entendida como Bildung, “formação” ) segundo o qual o
conhecimento não pode estar dissociado do espírito e do próprio individuo cai
por terra. A educação nos moldes atuais não resiste a esses pressupostos.
Os conteúdos das disciplinas são transmitidos de maneira muito
superficial como mera informação sem nenhuma preocupação com os aspectos
conceituais afastando-se das cogitações mais profundas.
Ademais, a falta de leitura e o consequente empobrecimento da linguagem
dos estudantes são preocupantes. Os alunos, por sua vez, buscam apenas o saber
técnico necessários para competir no mercado. O sociólogo Max Weber chamava a
atenção já no inicio do século XX que a educação estava mudando os seus
objetivos para atender as imposições do capitalismo moderno. Ate então, o
objetivo da educação era formar homens com um grande cabedal de cultura. A
partir daquele momento a finalidade passava a ser treinar especialista. Não há a preocupação de transformar o
individuo num cidadão conscientizado e politizado capaz de refletir sobre os
problemas que afligem a sociedade na qual está inserido. Causa espécie ouvir de
pessoas que por dever de oficio deveriam estar sempre em contato com a escrita
e a leitura dizerem, com todas as letras, que não gostam de ler. Quem não lê
dificilmente vai aprender a pensar, que é o objetivo precípuo da educação. É
preciso ter em mente que a dialética de cada um depende de seu grau de cultura.
Ao ingressar nos meios acadêmicos, o aluno deve estar imbuído da ideia
de que é uma oportunidade de abrir novos horizontes e não um atalho para galgar
uma posição privilegiada na sociedade.
A educação que é indubitavelmente um instrumento fundamental para a mudança
de uma estrutura opressora e excludente acaba se transformando numa ferramenta
a serviço da manutenção do status quo pelas elites.
Para este escriba, somente uma educação voltada para a democratização
da sociedade pode formar cidadãos críticos e conscientes e não um rebanho de
consumidores ávidos por produtos descartáveis que proporcionam apenas prazeres
efêmeros.